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Jornalista de raça negra fala com a Rádio Destaque

Sexta-feira, dia 13 de maio, a Lei Áurea completa 128 anos

Publicada em 13/05/16 às 12:17h - 849 visualizações

por Jayne e Jones Ferreira dos Santos


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 (Foto: Jayne e Jones)
Sexta-feira, dia 13 de maio, a Lei Áurea completará 128 anos. A medida criada e assinada pela princesa Isabel, apelidada de "a Redentora", aboliu a escravatura no Brasil, em 1888.
Apesar da abolição da escravatura no papel, demorou um bom tempo para que os afrodescendentes fossem aceitos pela população, tanto é que a vida dos escravos brasileiros ainda continuou difícil, pois o estado brasileiro não se preocupou em oferecer condições para que eles fossem integrados ao mercado de trabalho e que dispusessem de uma renda mensal para manterem-se ativos, sem contar que havia e ainda há um imenso preconceito contra os negros no Brasil.Para registrar a data a Rádio Destaque Regional, entrevistou o único jornalista Negro entre Porto União e Caçador SC e que por vários anos foi e continua discriminado, mesmo que com um ar fingido.

R.D.R-Quem é João Batista Ferreira dos Santos?
JB-, Sou uma pessoa simples, humilde , adoro a família que tenho, gosto do que faço e preso pela honestidade. Outro fato que honra é ajudar as pessoas, mesmo eu sendo uma pessoa pobre, gosto muito das histórias locais.
R.D.R- Pai, mãe e irmãos?
JB-Meu querido e saudoso pai se chamava Pedro Ferreira dos Santos e minha mãe, saudosa Matilde Colaço dos Santos, me ensinaram muito, incentivaram, meu pai me pegava pelas mãos e me aconselhava, tudo isso valeu muito. Tenho quatro irmãos, Carlos, Teófilo e Ezequiel.
R.D.R- Quem são seus filhos e esposa?
JB-Sou casado com Lúcia Kinal dos Santos, com quem tenho duas filhas e um filho. Mayara, Jayne e Jones, além da minha neta, Isabeli Nicole filha da Mayara. Adoro  eles e sempre ensino o melhor.
R.D.R- Profissão?
JB-Sou jornalista formado, em 2008, pela UNIUV de União da Vitória PR, um dos meus sonhos foi chegar a faculdade, consegui, trabalhei por muitos anos como jornalista sem diploma, desde 1.992. Durante estes anos várias foram as reportagens, além de ter trabalhado por 13 anos como repórter regional da Rádio Difusora União AM de União da Vitória,trabalhei por vários anos no jornal Folha da Cidade,  de Caçador SC, e  fui  proprietário do Jornal Destaque Regional, que circulou por  17 anos em Calmon e Matos Costa SC. Dentro da minha profissão aprendi a gostar de historias e sempre produzo material jornalístico histórico.
R.D.R- Já sofreu discriminação durante sua vida?
JB- Inúmeras, a ponto de quando menino, ser excluído por amigos de amigos de escola, mas tinha também os verdadeiros amigos e amigas de escola, de jogo de bola, meus professores da época. Aprendi a ler com seis anos de idade, sempre gostei e gosto de ler livros e gibis, na época de menino afirmavam em Calmon, que pessoas que liam eram vadios, isso nos envergonhava, mas não larguei os livros, Desde os nove anos, sempre trabalhei com meus irmãos em lavouras de tomate, alho e milho, de colonos da região. Inclusive com 11 anos me intoxiquei com veneno de tomate e sofri anos e anos. Mas, com a idade avançando a discriminação crescia junto, já que sou filho de pai negro e mãe branca. Com 10 anos eu fiz um desafio, iniciei anúncios na torre da igreja de Calmon, nem sabia segurar um microfone, já que adorava ouvir rádios e sonhava com a profissão. Quando afirmava que um dia seria radialista, alguns comerciantes e pessoas ligadas a classe mais branca diziam: Desde quando negro será um radialista? Aquilo me deixava envergonhado, contava para meu pai e ele dizia, vá em frente, o que falam de nós hoje, pagarão no futuro.
R.D.R-Em todos os lugares havia isso?
JB-Em alguns, mas existia muita descriminação, meu pai era constantemente usado, comprava um valor e tinha que pagar outro. Como eramos pobres, ele tinha que abrir valas para fazendeiros, para aumentar a renda, os bons pagavam direitinho, outros davam um quilo de charque e era aquilo. Passamos muitos finais de anos, apenas sentindo o cheiro de churrasco alheio.
R,D,R- Depois de moço alguém o auxiliou?
JB-Sim, depois que meu pai faleceu, vivi por muitos anos com minha mãe, muitas pessoas me ajudaram, entre elas minhas professoras, que sempre acreditaram em mim. Em 1.992, um homem chamado Alcides Boff, vereador em Matos Costa SC, me convidou para trabalhar para ele, como Calmon, havia se emancipado, ele disse que iria concorrer a uma vaga a prefeito e eu seria seu assessor, no início não acreditei, mas, depois da vitória, presenciei que ele tinha palavra. Mesmo assim me anunciando como o primeiro assessor de imprensa, Bof sofreu criticas, onde afirmavam: Onde se viu colocar este negro burro na prefeitura. Alcides dizia, quem manda sou e o JB vai trabalhar comigo. Foram quatro anos ao lado deste homem que respeito muito. Elegeu o seu sucessor Gilmar Leindens, que depois de dois anos de mandato também começou a me discriminar, fui convidado a trabalhar com outro prefeito em Matos Costa, Luiz Fernandes Stefanni, fiquei dois anos lá. Depois trabalhei com outros prefeitos. Também inicie um trabalho com a Câmara de Matos Costa.
R.D.R- Mais algum politico o auxiliou?
JB- Sim, dois deputados me ajudaram muito, são os ex-deputados estaduais Onofre Santo Agostini, com quem trabalhei 20 anos e Reno Caramori, para quem prestei serviços por 17 anos.Homens de coração bom, que me defendiam em vários lugares. Outro amigo foi o Deputado Carlito Merss, que me auxiliou até em uma viagem para conhecer a TV Câmara e TV Senado em Brasília DF, durante minha faculdade. Estes políticos nunca olharam para minha cor.
R.D.R- Outras pessoas da comunidade também lhe prestaram ajuda?
 JB- Sim, um deles foi o querido Laudelino Fagundes, o seu Dico e sua esposa a Dona Luiza. Todo  o tempo em que trabalhei em Matos Costa, sempre me ofereceram um prato de comida, seu Dico me considerava um filho moreno dele, sem discriminação. Quando menos esperava ele colocava, de 100 a 200 reais em meu bolso e afirmava: Isto é para ajudar a comprar alimentos para teus filhinhos. Um homem e uma mulher que além de meus pais e familiares jamais vou esquecer.
R.D.R. E com o tempo como foi?
Durante toda esta trajetória, sempre fui discriminado, mesmo que escondido sofro até os dias atuais,as vezes mesmo de colegas de profissão, especialmente de políticos. De 1997 em diante, em Calmon, sempre fui visto como um estorvo, mas nunca baixei a cabeça, principalmente para atual classe política, que para mim é uma vergonha. Pessoas que hoje me elogiam, quando estavam com outros políticos também me criticaram, atualmente se fazem de amigo.
R,D,R- Voltou para o cargo de assessor novamente?
 JB- Em 2009 assumo já com um diploma na mão o cargo de assessor do Prefeito Alcides Bof novamente, Outra vez ele enfrentou criticas devido a minha pessoa, aconteceram tramas dentro da administração, ente funcionários que vieram de fora, armaram falcatruas inclusive com um repórter de Caçador, onde rendia muito. Nunca fui a favor disso, mas o prefeito Alcides e o vice Elemar foram muito bons, também tive  uns quatro colegas que deu para confiar. Entre os politicos cito o vereador Alcebíades dos Anjos, que sempre me respeitou como pessoa e jornalista, somos amigos e o respeito muito, se todos os políticos de Calmon, tivessem 10% do vereador Bide, seriam excelentes, mas são apenas restos de uma escória.
R.D.R- Quem mais você destaca na classe politica?
 JB- Depois do senhor Alcides Bof,, outro prefeito que consegui ter uma atenção exemplar sem perseguições é o atual prefeito de Matos Costa, Raul Ribas Neto, que no passado também foi meu professor. Respeito os demais prefeitos de Matos Costa com quem trabalhei, apesar de tudo foram melhores que os ex-prefeitos de Calmon.  Ribas  é ousado e não se deixa levar por corrupção, sei que muitos tem ciúmes do meu trabalho em Matos Costa, inclusive pessoas que se dizem amigos, outros usam caras feias pensando me assustar, mas sei que por trás disso tudo é o maldito racismo que impera.
R.D.R. è verdade que já "montou", colocou no ar duas rádios piratas?
JB-É verdade e não me arrependo,mas nunca escondi de ninguém, uma em 1994 e outra em 1998. Uma AM e outra FM. A ANATEL apreendeu os aparelhos e devolveu, já que não escondi e prestei serviços sociais a comunidade. Épocas boas, já que sempre fomos carentes da imprensa regional. Atualmente tenho com meus filhos Jones e Jayne a Rádio  e site Destaque Regional, que já está na rede a quatro anos e nos tem trazido muitas alegrias.
R,D,R- E o Contestado e Grupo Resgate?
Isso já é uma parte da história que rende muitas páginas. Em 1.994, não sabíamos o por que do nome Calmon, eu mais os amigos Joel Ribeiro e o saudoso Mauri Araújo criamos o Grupo Resgate, entre as várias descobertas está o nome de Calmon, mais de 4 mil balas de fuzil e outras descobertas e homenagens a pessoas esquecidas em Calmon. O Grupo continua e as descobertas também.
RDR. como foi se formar jornalista e lançar um livro?
 JB-Foi ótimo, tapei a boca dos invejosos, quando segurei o diploma gritei, eu venci, ofereci ao meu querido pai, a minha mãe, filhos e familiares, além de todas as pessoas que acreditaram em mim.Para minha surpressa veio o primeiro livro de Calmon,escrito por alguém outrora descriminado e esquecido, um negro de Calmon. nas duas noites de autógrafos, foi muito emocionante, já  tenho praticamente dois livros novos prontos, esperando dinheiro para pagar a gráfica que está muito cara.
R.D.R-Finalizando, o que gostaria de falar neste dia que completa 128 anos do fim da escravatura no Brasil?
JB- Graças a Deus sou um vencedor, tenho uma linda e querida família, sei quem são os verdadeiros amigos e amigas e também sei muito bem quem são os racistas  fingidos. Tudo o que venho conseguindo é graças  ao meu Deus,esforço, a minha família que não me abandona e aos bons e verdadeiros amigos, que felizmente são pouco. Outro amigo que desejo citar é o comerciante José Marques, que durante os 22 anos que distribuo doces com amigos para as crianças, ele já está conosco a 17 anos. Vamos continuar com nossas ações de ajudar as pessoas, homenagear que está esquecido e combater os maus políticos.
Sou JB, jornalista caboclo, sou negro e tenho orgulho da minha cor, quem não gosta que continue não gostando. 
Reportagem realizada pelos filhos Jones e Jayne Ferreira dos Santos.






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